Quem tem medo da partitura?

Quem tem medo da partitura?

Vou dar uma descrição superficial e um panorama geral sobre a escrita musical na partitura. Minha ideia aqui não é ensinar ninguém a ler partitura, apenas apresentar um resumo e o espírito central da coisa.

A partitura é a maneira de se escrever música mais usada, por oferecer detalhes mais completos do que os outros sistemas de escrita que encontramos por aí. Podemos dizer que a partitura é um desenho do som, uma representação visual do que devemos reproduzir em nosso instrumento, seja ele qual for. Altura ( se o som é grave ou agudo, se é dó, ré, fá, etc), duração ( se é curto ou longo), intensidade ( se é forte ou fraco, intenso ou suave), timbre (qual instrumento será usado, ou qual a “cara” ou “cor” do som) serão desenhados no papel usando sinais específicos para cada propriedade do som, além de outras informações para facilitar a vida do músico e para que ele toque de uma maneira mais fiel à ideia do compositor (quais notas deverá alterar para estar no tom, a maneira de se contar e acentuar os tempos, expressões de como tocar certas passagens, indicações de dedilhado e da maneira de pronunciar as notas, entre outras coisas). Veja a seguir uma genérica e breve descrição de cada uma dessas propriedades e como elas são representadas:

Altura

Os sons são escritos sobre 5 linhas paralelas (pentagrama, ou pauta). Imagine que essas linhas são uma régua para medir o quanto o som é agudo ou grave. Quanto mais para cima nessas 5 linhas a gente escrever, mais agudo será o som, quanto mais para baixo nessas linhas, mais grave ele será. Escrevemos as notas musicais nas linhas e nos espaços entre elas, e de acordo com essa posição saberemos qual nota musical esta escrita (dó, ré, mi, fá, sol, etc). Para definir se o conjunto de sons a serem tocados estão em um registro mais grave ou agudo, e para nomear o nome exato de cada nota sobre as linhas e espaços, colocamos uma indicação no começo da pauta chamada de clave.

Duração

Usamos figuras diferentes para saber se o som ou silêncio é mais longo ou curto. Cada figura irá indicar um tipo de duração diferente, e de que maneira iremos contar e dosar a duração dessas figuras é determinada logo no começo da pauta (fórmula de compasso).

Timbre

Isso é indicado na partitura quando especificamos em qual instrumento devemos tocar aquela música, ou escrevendo ao longo da partitura de que maneira devemos tocar cada parte em especial (em qual região das cordas por exemplo).

Intensidade

Através de sinais indicamos se aquele trecho da música deve ser tocado em volume mais alto ou mais baixo, por exemplo. Usam-se termos como piano (toque fraco), mezzo forte (toque em um volume de intensidade mediana) e forte (toque em um volume de som mais intenso), o quanto iremos variar na intensidade dos sons ao longo da música é relativo ( volume mais forte, e volume mais fraco) de acordo com sua interpretação e as possibilidades do seu instrumento.

Sinais de repetição

Também usamos sinais para indicar quantas vezes tocaremos cada pedaço da música, se repetimos uma seção depois da outra e informações desse tipo.

Vantagens de se saber ler partitura

É possível tocar uma música que nunca ouvimos antes, temos informações o suficiente para chegar em um resultado 90% igual ao original. Muitos detalhes, especialmente sobre ritmo, intensidade, tonalidade, estrutura da música e da linguagem musical usada, entre outras coisas, são melhores representados na partitura se comparados aos outros tipos de notação. Também ao se aprender a ler partitura é possível entender a música escrita para instrumentos diferentes do seu. Tocar em grupo se torna mais prático, porque conseguimos indicar clara e visualmente a relação e interação dos instrumentos usados na música, e contamos com uma ferramenta poderosa para estudar e praticar, a medida que será possível entender nota por nota, tempo por tampo, frase por frase, etc.

A música está no papel?

Acima de tudo a partitura é somente um registro das ideias do compositor, um mapa da música, nos indicando detalhes de como e o que tocar no nosso instrumento para conseguir transmitir a ideia musical do compositor aos ouvintes; a música acontece além da partitura, através da interpretação do músico. Alguns detalhes da ideia que o compositor teve quando criou a música podem ser muito bem expressos através dela, e outros não, sendo necessários conhecimento e informações externas (qual o estilo, qual a intenção de cada nota, qual a linguagem daquele tipo de música, por exemplo), então ler partitura é um processo criativo e artístico como qualquer outro, da mesma maneira que é possível declamar uma poesia ou ler texto com infinitas entonações e expressões diversas, ou seguir as instruções de uma planta para se construir alguma coisa.

Ler partitura é difícil ou só para profissionais

Isso é mito. Você não aprendeu a ler na escola em um só dia, isso levou algum tempo. Se você praticar e exercitar com frequência ( os exercícios certos e sendo bem orientado), ler música na pauta se torna algo tão natural como ler qualquer outro texto. O professor deve ter um planejamento didático coerente e progressivo de dificuldade para introduzir todo o conteúdo de maneira construtiva no aprendizado do aluno, muitas pessoas têm uma concepção errada da coisa porque foram instruída por alguém pouco capacitado ou de maneira equivocada. Não se ensina a ler e escrever apresentando o alfabeto e depois jogando um dicionário na mão do aluno, e é o que percebo com certa frequência ao ouvir relatos de pessoas que tiveram experiências negativas ao aprender a ler partitura.

Também é tolice achar que ler música só é útil para profissionais. É verdade que a partitura é a escrita mais padronizada e universalmente usada pelos profissionais, mas isso se deu principalmente pela praticidade da coisa, como é mais completo e efetivo, todo mundo usa. Aprender música, seja de maneira amadora, informal, ou por hobbie, muitas vezes pode envolver recursos como percepção auditiva, memória, e uma capacidade de abstração que muitas pessoas ainda não desenvolveram, e o uso da partitura nesse meio tempo serve como apoio importante. A música é também uma linguagem (múltiplas linguagens): imagine como seria aprender uma língua nova sem poder escrever ou ler. Especialmente para estudantes, a partitura é um recurso muito prático de ser usado.

Eu não preciso disso

Talvez não, é possível se fazer ótima música sem nem chegar perto de uma pauta. Nesses casos usa-se outras formas de se aprender música, especialmente o ouvido. Quem começa a dar os primeiros toques usando outros recursos e escritas, como aprender por cifras, tablaturas, tirar tudo de ouvido, etc. muitas vezes não se adapta ao uso da partitura porque não teve paciência de aprender algo novo, e sempre usa outros recursos para aprender e ensaiar músicas novas. É lugar comum o aluno que está em um estágio avançado de técnica, memória musical, memória auditiva e percepção, mas em um estágio primariamente pobre de leitura, e como resultado disso a pessoa sempre usa as ferramentas que está mais acostumada a usar para resolver seus problemas ao invés de desenvolver outras habilidades.

De acordo com o seu objetivo em estudar música isso pode não lhe prejudicar tanto, a princípio, mas conforme vamos avançando no instrumento, cedo ou tarde isso pode ser uma lacuna no seu desenvolvimento que vai lhe impedir de avançar. Especialmente assuntos relacionados a teoria musical (intervalos, estruturas de acordes, escalas e tonalidades, etc) podem ser mais difíceis de se entender por outros meios. E por último e não menos importante: certo tipo de repertório só encontramos em partitura (musica popular inclusive).

Pessoalmente acho que todo mundo que toca violão deveria saber o básico sobre leitura na partitura, ter uma leitura fluente na primeira região do braço ao menos, além da escrita por cifras e de tablatura. Cada umas dessas maneira de escrever música pode contribuir em alguma coisa, especialmente quando estamos aprendendo.

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