Como estudar?
A palavra estudo às vezes já assusta o pessoal, dependendo de cada um. “Como praticar?” “Como ensaiar?” “Como melhorar no meu instrumento?” poderia ser um nome mais apropriado pra esse post, mas acho que no geral “estudo” é o que melhor descreve a lista de dicas que vou dar a seguir. Essas são ideias, maneiras e métodos que funcionam e funcionaram comigo e meus alunos ao longo do tempo, veja o que pode ser útil para você também e encontre outras dicas de como se organizar para manter uma rotina de estudos aqui.
Métodos de estudo
Pomodoro
A técnica pomodoro é uma ideia que pode ser aplicada em várias atividades além da música, tem esse nome por conta daqueles marcadores de tempo usados na cozinha, alguns em formato de tomate (por isso pomodoro), o que na prática é um cronômetro regressivo. É uma ideia de como resolver pequenas tarefas em um determinado período de tempo, por isso é usada como ferramenta de produtividade em métodos de organização pessoal ou no ambiente de trabalho. Atribua um tempo para algum tópico que você estiver estudando e pratique até o relógio tocar. Por exemplo: praticar a escala de Si menor harmônica em semi colcheias a 100 bmp por 15 minutos. Acho especialmente interessante usar essa ideia para aprimorar coisas que envolvem resistência física, como aguentar uma levada nova durante uma música toda ou algo do tipo. Se usado com o metrônomo esse método pode fazer milagres.
Jogo do repetir sem errar
Escolha um pedaço da música, escala, exercício, ou mesmo a música inteira, e tente repetir 3, 5 ,10 ou quantas vezes consecutivas sem errar. Quando errar volte à contagem de 0. Isso funciona maravilhas em pessoas com pouca atenção ou dificuldade em se concentrar, por que as obriga a aprimorar o foco no que estão fazendo, e também pode tornar a coisa mais divertida especialmente com crianças.
Blocos de construção
Divida a música em partes pequenas (compassos, frases, seções, ou algo do tipo) resolva 100% uma parte e só depois disso passe a praticar a próxima. Expanda essa ideia pela música toda como se cada trecho fosse um tijolo em uma parede. Por exemplo: minha música ou os trecho que irei estudar estão divididos em 4 partes, A, B, C e D. Ensaio a parte A até tudo estar ok, passo para a parte B. Quando terminar a parte B, ensaio as partes A e B como se fossem uma outra e nova seção; depois ensaio a parte C, ai pratico A+B+C, por fim ensaio a parte D e por último junto todos os blocos.
Acerte ao alvo
Estabeleça um objetivo claro e específico, e pratique até conseguir atingi-lo. Simples assim. Isso pode ser útil dependendo do que você está mirando, se for algo claro e possível de se atingir de acordo com o seu nível e momento de estudo, como “conseguir decorar os 4 primeiros compassos da música x”, ou “melhorar a mão esquerda e assimilar a troca entre os acordes de X e Y”, “melhorar o timbre da parte C da música Z”, agora se o seu alvo for algo mal calculado ou genérico (“praticar até tocar muito bem” :/) melhor usar outras técnicas antes.
Séries
Repetir alguma coisa como se fossem séries em academia, 3 séries de 10 repetições por exemplo. Isso pode ser usado desde troca entre acordes, escalas, ou até ensaiar uma música inteira. Talvez seja a maneira mais intuitiva de se praticar alguma coisa, simplesmente repetir até conseguir, mas é importante observar que simplesmente repetir por repetir não é tudo, é importante levar em conta outros pontos também, o que você espera melhorar em cada repetição e se concentrar para conseguir atingir esse objetivo específico.
Estudo por reflexão
Acho legal mencionar algo sobre o estudo por reflexão, não exatamente para propor essa técnica, até porque é algo que envolve tantas outras questões e grande experiência com o estudo da música, mas para ilustrar o quanto é importante entender racionalmente, intelectualmente, uma música além de simplesmente mexer as mãos. O estudo por reflexão é uma habilidade desenvolvida por concertistas e músicos experientes, onde o músico estuda mentalmente, entendendo a peça olhando para a partitura ou mesmo só ouvindo uma gravação, se imagina tocando a peça, resolve todos os problemas técnicos e musicais envolvidos na música antes de colocar a mão no instrumento. Isso é especialmente importante de ser levado em consideração porque muitas vezes podemos acreditar que tocar música é algo como um exercício físico ou uma atividade mecânica simplesmente, e não é o caso. Se você compreende em um nível intelectual as estruturas por trás de uma música (a relação dos acordes, das seções, o fraseado que está ligado a cada melodia, a interação dos instrumentos ou das vozes de uma peça, a ideia e caráter a ser expressado em uma parte, etc) você já resolveu 80 % do trabalho. Evidente que para um músico iniciante isso é praticamente impossível de se fazer, no entanto busque compreender a música em outros níveis além do trabalho braçal de mexer os dedos. Faça o solfejo rítmico, solfejo melódico, decore a forma da música, cante as partes de cada trecho que estiver estudando, faça um mapa interpretativo do que e como você vai fazer em cada parte. Os pontos que mencionei podem ser usados tanto para aprender uma peça elaborada de música clássica ou para o acompanhamento de alguma canção popular.
Más atitudes
Sua postura enquanto estiver colocando os métodos citados em prática é muito importante. O hábito faz o monge, já diz o ditado. A prática não traz a perfeição, a prática torna as coisas iguais, por isso é importante sempre se policiar e ter claramente o que você está buscando melhorar. Veja neste post, outros hábitos ruins que devem ser evitados.
Ufa!
Você tentou acertar algo errando 50 vezes, e ao conseguir acertar pela primeira vez, para de praticar e deu a luta por vencida. Pense que seu cérebro é uma uma balança, você repetiu algo por 50 vezes errando, está condicionado mais a errar do que a acertar, para equilibrar a balança é melhor acertar outras 50 vezes, no mínimo. Não pratique até conseguir acertar, pratique para não conseguir errar.
Impaciência
Tentar fazer algo o mais rápido possível, ou sem ser devagar o suficiente para conseguir prestar atenção em todos os detalhes, controlar e sentir cada gesto e nota que está tocando. Tenha paciência, toda vez que você tenta acertar algo na sorte, acaba passando por cima dos seus erros sem se dar tempo para entender e resolver o que precisa melhorar. Pratique lentamente. Velocidade não é sinal de eficiência, e mesmo no mais virtuoso e rápido solo de guitarra ou seja lá o que for, só se atinge esse resultado praticando lentamente antes.
Músico de princípios
O aluno que começa várias músicas e a estudar vários assuntos e nunca termina nada. Ensaie até conseguir atingir o objetivo de cada sessão de estudo, mantenha o foco e persista até chegar no final, só mude de música ou assunto quando estiver dominando 100 %.
Ensaiar com distrações por perto
Desligue o celular, não toque assistindo televisão, pratique em algum lugar tranquilo onde você consiga se concentrar. É melhor passar 30 minutos estudando pra valer do que o dia todo divagando com o instrumento na mão.
Não praticar com frequência
O título é meio que auto explicativo. Se você não praticar por uma semana, você sente a diferença. Se você não tocar por um mês, os músicos que tocam com você irão notar a diferença. Se você não tocar por um ano, o público irá notar a diferença. Isso é uma verdade para músicos profissionais e ainda mais importante quando estamos aprendendo, até termos uma base sólida é importante praticar todo dia.
Boas atitudes
Metrônomo, lápis, gravador e espelho
Use esses acessórios para melhorar a qualidade do seu estudo. Estudar sempre com o metrônomo ajuda a melhorar em vários pontos, rabisque sua partitura com lembretes e anotações pertinentes, se grave tocando para ouvir depois e perceber onde pode melhorar, se olhe no espelho enquanto pratica para corrigir sua técnica e postura, por exemplo. Use esses acessórios para facilitar a sua vida.
Crie uma plano de estudo
Peça ajuda para o seu professor e planeje cada sessão de estudo, para se ter bons resultados a longo prazo. Anote tudo detalhadamente e siga o plano, bata o cartão em cada tópico.
Descanse
É melhor praticar em blocos curtos de tempo, como 20 minutos para cada tópico, do que passar horas tentando melhorar a mesma coisa. Nosso cérebro não consegue se manter em alerta por um período maior do que esses 20 minutos aproximadamente, então use isso ao seu favor. Descanse as mãos e a cabeça, faça intervalos entre as sessões de estudo, e se você tem uma agenda cheia, pode ter bons resultados tentando intercalar seus compromissos e outras atividades com o estudo do instrumento.
Digitação
Faça sempre a mesma digitação, e escolha algo coerente com a parte que está ensaiando. Quem toca por intuição e passa por cima desse detalhe normalmente não repete tudo exatamente igual, e como resultado acaba tendo algo inconsistente.
Pra começar, é isso. Tenho outros truques na manga para ensaiar e praticar mas são muito específicos de cada situação e acho que não vale mencionar aqui, somente preferi citar meia dúzia de ideias no geral para ajudar o pessoal a praticar de uma maneira eficiente. Na condição de professor muitas vezes delegamos para o aluno a responsabilidade de ensaiar, praticar, resolver uma música para a próxima aula, mas nem sempre o aluno já aprendeu como fazer isso de verdade. Acho desleal culpar o aluno por não ter feito “lição de casa” sendo que em muitos casos, especialmente no caso de iniciantes, a pessoa simplesmente não sabe como estudar, e esforço nem sempre quer dizer resultado, principalmente quando investido na direção errada.
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