Meu filho e as aulas de violão
Os pais devem ser parte ativa na educação dos filhos, e no caso de aulas de música isso não é diferente. Às vezes buscando oferecer boas oportunidades de educação para os filhos e toda atenção devida, alguns pais acabam interferindo de uma maneira não tão saudável na formação da criança. Meu objetivo com esse post é compartilhar minha visão sobre educação musical infantil, mostrar minha maneira de trabalhar e dentro do possível evitar alguns desastres e traumas de infância.
Eu odeio violão!
Acredito que em um primeiro estágio o amor pela música e o prazer de se tocar violão devem ser estimulados antes de qualquer sentido de obrigação e dever, e a longo prazo valores como o empenho, disciplina e perseverança podem ser trabalhados na criança. Independente da idade do aluno a atitude de tocar violão deve ser algo não muito distante de uma brincadeira ou momento de lazer, mesmo seguindo as orientações do professor. Quando o curso já estiver em andamento por um tempo maior, e o primeiro contato com o instrumento e o hábito de se praticar faça parte do universo do criança, só então pode ser aconselhável uma supervisão acirrada e cobrança maior por parte dos pais. Se a criança não encarar o hábito de tocar violão como uma brincadeira ou algo prazeroso, esquece!
O que fazer?
O apoio e a supervisão pelos pais e responsáveis durante o curso pode ser um fator fundamental no desenvolvimento da criança. É importante que o aluno pratique, de preferência, todos os dias, mesmo que só por alguns minutos.
De acordo com a agenda e a rotina de cada criança, é recomendável que a expectativa dos pais em relação ao seu progresso nas aulas seja condizente com as características de cada um, e com o tempo disponível para o estudo. Aconselho que todos tenham paciência e respeitem o estágio de cada aluno e enxerguem o desenvolvimento musical da criança de uma maneira ampla e progressiva.
O acompanhamento por parte dos pais responsáveis deve se dar de maneira natural, através de incentivos a praticar o instrumento, elogios e críticas no momento e de maneira adequada.
Estimule o consumo de música junto da criança, seja ouvindo música em casa ou a levando para assistir shows e apresentações ao vivo, concertos, recitais, etc.
O que não fazer?
Evite a todo custo comparações depreciativas em relação a outros alunos, críticas mal colocadas e cobranças excessivas pelo viés da obrigação, e impor disciplina como um fator externo. Pelas experiências que tive, geralmente essas coisas trazem mais prejuízo do que algum resultado prático, ou mesmo sadio para a mentalidade da criança.
Não force a criança a se apresentar em público antes da hora. Uma simples apresentação em algum tipo de reunião familiar, se imposta pelos pais sem o consentimento e conforto do aluno, pode ter resultados completamente frustrantes e contraproducentes, abalando em muito o desenvolvimento psicológico, musical e interpessoal da criança. Quantos adultos você conhece com medo de falar em público ou terror de palco? Imagine isso quando se tem 10 anos de idade. Quando o momento chegar a criança estará confortável o suficiente para se apresentar em público de maneira saudável, e terá boas lembranças dessa experiência ao invés de traumas.
Gosto não se discute? Estudar estilos e gêneros musicais diferentes fazem parte do processo de aprendizagem musical. Não estampe ou perpetue preconceitos na mentalidade da criança, se você não entende ou não tem afinidade nenhuma com certo gênero musical, ou pelo repertório que o professor esta trabalhando no momento, converse com seu professor. Infelizmente já pude presenciar alunos brilhantes que por falta de estímulo dos pais acabaram se frustrando no meio do caminho. Exemplo: o aluno está estudando uma canção de bossa nova e ouve críticas dos pais porque eles preferem músicas do estilo X ou Y.
Acompanhe, mas não obrigue a criança a praticar. Se o momento de tocar violão se transformar em um cenário semelhante ao de se tomar um remédio, ir ao dentista ou uma tortura, algo esta completamente errado. Com o estímulo certo o que se espera é que o aluno pratique o máximo possível, motivo pelo próprio interesse.
25 horas diárias de estudo
O tempo ideal de prática no instrumento pode variar em cada aluno, e a disciplina e assiduidade é fundamental para bons resultados a longo prazo. No caso de adultos, uma sessão produtiva de estudo não deve ultrapassar mais de 30 ou 40 minutos ininterruptos, a fim de evitar lesões musculares e proporcionar maior facilidade de aproveitamento mental na absorção dos conteúdos. Se tratando de crianças, cada faixa etária terá o seu próprio tempo ideal de absorção e concentração nos estudos. Aos alunos com maior disponibilidade de horários para se dedicar ao instrumento, é melhor que as sessões de prática sejam intercaladas com outras atividades, como fazer o dever de casa escolar, assistir a um programa de televisão, brincar com um amigo, etc. Uma ou duas horas diárias de estudo é mais que o suficiente para se obter ótimos resultados para um trabalho inicial. Todos alunos são orientados nas aulas sobre qual a maneira mais eficiente de estudo e prática diária, bem como qual é a dinâmica de uma sessão de estudo ( exercícios de alongamentos e aquecimento, afinar o instrumento, prática de exercícios e lições, ensaio de repertório, manutenção do violão, etc).
Em quanto tempo meu filho estará tocando sua primeira música?
Em meus cursos, logo no primeiro encontro o aluno entrará em contato com exercícios e elementos que por si só já constituem uma informação musical completa (uma “musiquinha”). Um aluno iniciante leva, em média, de 2 a 6 meses para desenvolver as habilidades técnicas necessárias para tocar sua primeira “música”, seja uma simples melodia ou realizar o acompanhamento simplificado de alguma canção popular. No entanto isso é extremamente relativo a cada aluno, e são fatores muito influentes a afinidade com o instrumento, gosto pela música, a assiduidade na prática e estudo, bem como as características naturais de cada indivíduo.
Paciência e respeito à natureza de cada criança são pré requisitos por parte dos pais, responsáveis, professores e todos os envolvidos no desenvolvimento educacional da criança.
Eu sou músico filhão!!
Muito embora seja de extrema importância atenção à diversos detalhes durante o estudo diário do instrumento, elementos de natureza técnica ou musicais, como postura, concepção de som, digitação, duração correta das notas, dedilhado, etc. são corrigidos e trabalhados durante as aulas. Dessa forma recomendo, principalmente aos pais que tenham alguma experiência na área, que evitem interferir de maneira direta no momento dos estudos e prática diária dos alunos. Estou sempre a disposição para tirar qualquer dúvida a respeito do andamento do curso, sobre qualquer um dos detalhes envolvidos, e como já foi divulgado anteriormente, ao começarmos as aulas é feito um planejamento didático, que é distribuído em um cronograma acessível a todos. Toque junto da criança buscando acima de tudo uma experiência positiva e lúdica do que observações críticas nem sempre tão bem fundamentadas.
O que meu filho pode aprender estudando violão?
O estudo das artes em geral, em especial a música e um instrumento musical, oferece oportunidade para se aprender e desenvolver muito mais do que podemos perceber. Maior capacidade de concentração, foco, abstração, raciocínio rápido, desenvolvimento de coordenação motora, valores como disciplina, perseverança, melhoria no relacionamento interpessoal, sensibilidade e reflexão artística, além de um meio de se expressar. A música é objeto de estudo especialmente em sua potencialidade como recurso terapêutico, e praticar um instrumento pode melhorar significativamente a qualidade de vida em vários pontos.
Em resumo, os adultos devem ser um fator estimulante no processo de aprendizado da criança, comentários mal pensados, falta de interesse por parte dos pais, preconceitos em relação a gêneros musicais, cobrança indevida e imposição muito rígida de disciplina ( ou a falta total dela) podem trazer maus resultados e em alguns casos danos irreversíveis na relação da criança com a música e o violão.
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